O Frio da noite...




'A noite caí sobre a cidade, debruçado na janela sinto o frio passar pelo meu rosto, esse frio que se espalha como veneno por todo o meu corpo, sinto dificuldade em respirar o ar frio, canso me rapidamente de o fazer...

Sempre odiei o frio, a neve, o vento... Tudo o que possa associar se ao frio toda a minha vida recusei me em o aceitar! o que me leva a pensar no que realmente se passa comigo?! Se o frio é algo que tanto me faz mal que tanto nego, então não consigo entender o porquê desse frio transparecer agora, mudei... Congelei os meus sentimentos de uma maneira destrutiva, sem tectos de vidro... construí uma casa fechada, de betão puro, lá dentro está o meu ser... e no mais escuro dos recantos da escuridão, escondi o que resta do meu coração, uma maneira de viver aquilo que realmente não existe... Sou feliz? Talvez, ou simplesmente deixei de compreender o que realmente significa a definição possível de sentir, deixei então de acreditar em mim mesmo, fechei me, isolei me, respirei o frio demasiado tempo e agora pago a cada dia sem ter culpa de me ter deixado levar pela ilusão de uma felicidade onde eu me sentia quente... mas como seria possível alguém que teme o frio cair nos braços de alguém tão cru...? insensível... frio... Não consigo descrever toda a dor que suportei sozinho... Todos aqueles gritos mudos como se o meu mundo tivesse sido arrasado, apagado do mapa, e talvez se aproxime disso... não encontro maneira de voltar a acreditar, com medo de me apaixonar e pagar o preço da dor que jurei não voltar a sentir, perdi a conta a todas as coisas que deixei de fazer... todas as coisas que deixei de dizer... Deixei de ser eu... Deixei de respirar a paixão... calculista, desapaixonado, com medo de tudo o que me possa ferir, com medo de cair, magoar, medo de me ter esquecido o significa amar...

'E enquanto sentia o frio passar me pelo meu rosto senti me estranhamente quente por dentro...

Afinal de contas como cheguei até aqui? Ultrapassei tantos erros e cometo outros tantos mas, tenho fé, acredito que talvez um dia consiga ultrapassar este frio que não provém da minha essência, apenas me recolho no frio, escuro, do silencio da solidão abstinente de sentimentos... para me proteger de tudo, da dor, dos outros... de um eu ingénuo que quando ama, cega de amores, dá o mundo, distribuí carinho e afecto, que protege nos seus braços como um tesouro o amor da sua vida... Para no final ser o que termina.. sozinho... espezinhado... usado... destroçado... O meu mundo caiu tantas vezes que quando dou por mim reparei que por mim nenhum mundo ruiu, nenhuma lágrima de compaixão caiu... Cá me mantenho no frio... até um dia... por enquanto aqui fico... perdido, a espera de me apaixonar, sem sequer acreditar que realmente o consigo voltar a fazer, passou se um ano sem amor, acho que não existe mais nada a fazer, deixou de existir esperança... futuro...

Apenas espero um dia sentir amor verdadeiro, um amor mutuo, para assim puder dizer que experienciei o mais puro dos sentimentos... e morrerei com um sorriso nos lábios pois irei dizer a plenos pulmões que deixei uma marca só minha, que causei lágrimas e sorrisos, que um dia deixei de ser um corpo mas sim dois no turbilhão da mais pura essência de um sentimento comum...

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