Desalinhado


Pensei durante algum tempo se deveria partilhar algumas das coisas que vou partilhar neste texto, neste pequeno espaço que mantenho em 'rede' durante horas e onde escrevo anonimamente, maioritariamente para mim mesmo.
Queria falar um pouco sobre saúde mental, sobre a minha experiência, sobre aquilo que sinto.
Tudo começou em criança, fui introduzido num lar corrompido, não temos escolha sobre essa circunstância abstrata. 
Nasci com diversos problemas de saúde nos braços de uma mãe atormentada por ter trazido ao mundo uma criança que lhe haviam dito que certamente morreria dentro dela, 
com receio do futuro e da incerteza do que que seria criar uma criança num lar onde o marido consumia droga e o dia de amanhã era incerto. 
A minha infância foi pintada como numa tela de forma a que eu não entendesse o que se passava, mas as crianças são poderosas, fui absorvendo todas as energias negativas dentro de mim, 
lembro-me de me sentir bem quando me sentia 'apertado' num espaço escondido onde ninguém me encontrasse, onde não existisse barulho de gritos, de discussões. 
Todo esse 'quadro' foi suportado por mim durante anos a fio, até que alguém dentro da minha família me roubou outro pedaço da minha inocência e me pediu silêncio. 
Foi o culminar de um rol de emoções fechadas dentro do meu pequeno ser. 
No meu imaginário, a minha mente foi amachucada como uma folha de papel, e sem mais espaço para escrever fui escrevendo outras páginas, páginas que me fizessem sentir que tudo era passageiro, que iria melhorar, mas o borrão continuava lá, continua aqui. 
Mal eu sabia que tudo não iria melhorar, que ao acumular todas as emoções me vou auto-destruindo. 
Essa auto-destruição, vivo-a sozinho, como sempre... pensei que o truque era guardar para mim e esperar que tudo voltasse ao normal. 
Hoje sei que não estou bem, que preciso de ajuda, mesmo que continue a sentir vergonha em fazê-lo. Nas últimas semanas tenho vivido num constante estado de ansiedade que só eu entendo, apenas eu sei o quanto me limita.
 E no meio de toda a vontade de superar e de gritar por ajuda a única coisa que acontece é isolar-me de tudo e de todos, nesses momentos sou a criança que fugia dos gritos.


A ansiedade é como um demônio de 3 metros e ombros largos, sem face, sabes que ele está lá mas não o vês, está nos teus ombros a pressionar-te para o chão, ou a segurar-te a cabeça e a controlar o teu olhar para te fazer sentir que toda a gente te está a julgar, que toda a gente vê aquilo que tu mais receias.
Hoje apesar de não me sentir melhor, decidi que não posso continuar a projectar ser um guerreiro sem espada, quero um dia ser feliz e 'livre' daquilo que me prende, quero encontrar luz no meio da escuridão. Hoje sei que preciso de ajuda, e vou fazê-lo, prometo-me a mim, assim como prometo que existirá luz onde um dia apenas sobravam sombras.

Comentários

Postagens mais visitadas